domingo, 28 de novembro de 2010

Encontros, reencontros e desencontros

“A vida de uma pessoa é caracterizada por suas interações com outras pessoas, e essas interações são grandemente estabelecidas por meio de palavras” diz Jean Paul Sartre em sua autobiografia intitulada Palavras. Eu falo mesmo muito da minha vida e das minhas experiências. As vezes falo demais da minha vida e alguma pessoas, segundo o conceito delas, que graças a Deus não é o meu, acham que me exponho demais, e digo que, se não fosse assim, eu não seria o Fred e acabaria me tornando o que as pessoas pensam que sou ou querem que eu seja, o que segundo Julio César é o que acaba acontecendo (o imperador romano dizia que é muito difícil não nos tornarmos aquilo que as pessoas pensam que somos). Por essa minha maneira de ser, as pessoas podem ter a impressão que não estou interessado na vida delas, que só quero falar da minha, mas a sensação que tenho é que se elas não se dispõe a falar de suas vidas, expôr suas opiniões e/ou discutí-las por sobre as minhas, eu é que não vou ficar forçando pois me sinto como se me intrometesse. Se a pessoas quiserem falar de si, de suas experiências e suas opiniões estarei pronto para discutí-las calorosamente.

Todos os contatos que mantenho até hoje com as pessoas que conheci e participaram da minha vida, as relações e as amizades que recuperei através dos sites de relacionamento e as que mantenho há muitos anos, em muitos casos décadas; as ex-namoradas, casos, rolos com quem mantenho contato, me fazem enxergar que de uma forma muito particular me disponibilizo, me dedico a todas as pessoas que passam pela minha vida e as vezes me espanto, me surpreendo com essa vontade que tenho de manter esses laços. Penso isso, porque acho que quando alguém reencontra personagens que fizeram parte de sua história, no passado, é como se esta pessoa se transportasse novamente para àquela época, através das lembranças reavivadas e das emoções que se acordam. Acho que como estou, e tenho consciência de que estou, seguindo meu caminho, realizando meus sonhos, cumprindo ao que me propus nesta vida, consigo ter essa pré-disposição, consigo doar tanto do meu tempo e da minha energia aos outros; e creio que isso só acontece se estiver feliz com o seu trajeto, com suas escolhas e se conseguir, de alguma maneira, orgulhar-se de si mesmo e de suas conquistas. Do contrário, com certeza, iria me fechar e preferir não me confrontar com as testemunhas vivas de meus sonhos não realizados, de minhas batalhas não travadas, de minhas estradas não percorridas. Por isso digo que tenho muitos motivos para olhar pra trás e seguir em frente, com um sorriso enorme no rosto, pronto para novos encontros, reencontros e desencontros!!!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Luzes, cheiros e rostos.

No momento que saia do hotel em Fortaleza o recepcionista perguntou se precisava de táxi.

Respondi que preferia ir andando por aí.

Ele contesta dizendo que não é seguro andar pela região.

Falo que já é quase meia noite e essa hora os ladrões já estão dormindo e só vou cruzar com os seres da noite: prostitutas, vigias, moradores de rua, gente indo pra balada.

Ele pergunta aonde vou e digo que vou até o Pirata¹ e se não estiver legal vou ao Dragão do Mar².

Ele me olha com aquela cara de que vou me dar mal.

Ignoro e penso comigo: porque as pessoas desenvolveram esse pânico de andar pela cidade? Não precisa ser à noite, mas de andar pela cidade a qualquer hora. Elas só se sentem seguras dentro dos seus Panzers³, protegidas pelos vidros e pelos pinos das portas. Entregam os carros nas portas dos restaurantes, das baladas, descem, entram, bebem, comem, dançam, saem, entram no carro e voltam pra casa. No fim de semana pegam o carro e vão ao shopping, a bolha de plástico da sociedade moderna. Insosso, inodoro, hermeticamente fechado, limpo e isolado do mundo de verdade.

Gosto de caminhar pelas cidades. Ver as pessoas nas ruas. Onde vivem. O que fazem. Que cara tem. Os lugares que freqüentam. Sentir os odores - e fedores - da vida urbana. Ouvir os sons, música e barulhos, de cada rincão. Dobrar uma esquina. Olhar pra cima e descobrir uma construção antiga, moderna, velha, nova. Ver o que nos é impossível ver de carro, pela velocidade ou pelo isolamento olfativo e acústico. Não me sinto vivo isolado do mundo em minha casa, no shopping, no carro e no trabalho. Preciso sentir a vida sendo vivida.

Muitas vezes saio de casa em Sampa no findi e vou andando até a Liberdade, de lá à Sé, atravesso o Centro e sigo até o Mosteiro de São Bento, passo pelo Parque Dom Pedro, cruzo a 25 e vou ao Mercado Municipal. Ali almoço e estico, também a pé, até a Pinacoteca....ou me meto em outras partes da cidade. Saio à noite pela Augusta, volto as 4 da manhã pela Paulista. No Rio, vou da Prudente de Moraes em Ipanema ao Leblon descendo pela praia ou pela Visconde de Pirajá na madrugada ou volto da balada depois de tomar um suco no BB ou comer na Pizzaria Guanabara. Saio da casa de amigos na Lagoa, desço a Jardim Botânico a pé até chegar no Baixo Gávea para tomar um chopp com outros amigos. Me perco pelos quadriláteros da floresta que é a Lapa, que é como a praia no Rio, o ambiente mais democrático que conheci no mundo. Tem de TUDO mesmo !!!!

Claro que não saio avoado, desligado, sem dar atenção ao que acontece à minha volta.

Saí do hotel, depois de ter sido aconselhado também pelo porteiro mas não fui pela calçada, afinal é fácil ser encurralado. Entrei na Avenida Beira Mar, passei em frente ao Restaurante Dona Nair e ao invés de seguir pela orla de Iracema que naquela região está abandonada, segui pela rua de dentro, passando pela capela e cruzando com os táxis que saem do Pirata. Não estava bom. Olhei a rua ao lado e segui por mais 10 minutos de caminhada, meio pela calçada, passando por pontos de ônibus com trabalhadores voltando pra casa, meio pela rua, desviando dos carros dos catadores de lixo da madrugada. Intacto e vivo, no sentido literal, cheguei ao Centro Cultural Dragão do Mar.

Sentei, tomei uma Caipiroska, comi e voltei, já às 2 da manhã, passando e sendo cumprimentado e cumprimentando as prostitutas e os travestis que ganham a vida por ali. Na verdade o pior ser que você pode cruzar na madrugada é o boyzinho no carrão que o papai deu, voltando bêbado da balada. Os seres que moram, comem e dormem na rua são, em geral, inofensivos.

Pois é, assim, em todas as cidades que chego, tento buscar caminhos a pé, tomar o ônibus para ver as pessoas reais que ali vivem, mas claro que não renego o conforto de um carro nas devidas ocasiões. Apenas desfruto mais de tudo que esse organismo vivo que chamamos de cidade pode oferecer.



¹ Bar e boite de Axé e Forró em Fortaleza, já foi considerada a melhor segunda-feira do país

² Centro cultural em Fortaleza, com bares, boites, restaurantes e salas de exposição,

³ Tanques blindados nazistas usados durante toda a segunda grande guerra

domingo, 10 de outubro de 2010

23 anos depois...

Durante a década de 70 visitava a cidade com freqüência com minha família, vínhamos frequentemente em grandes feriados e Natal para a casa de parentes. A viagem era longa e muitas vezes tínhamos que parar e dormir em algum hotel de estrada, afinal eram mais de 400km de estradas sinuosas em mão dupla, com média de velocidade inferior a 40km/h em um Fusquinha ou mesmo num velho Corcel – na época novo.

Havia a parte romântica, pois parávamos em cidades históricas no caminho. Havia curiosidades como a primeira vez que comi um típico pão de queijo que ainda não era industrializado, no subsolo de uma casa em Barbacena, próximo a estrada, onde a própria dona preparava a massa e o fazia na hora. Tenho lembranças dos primeiros amassos com minha prima no banco de trás do carro enquanto meu pai dirigia e minha mãe dormia e não via - ou fingia que não via e, já com 21 anos, a viagem de diversão com meu “irmão”... “Alagados, Springstown, Favela da Maré, a esperança não vem do mar...” era o lançamento do Paralamas na época... fomos curtir os bares da cidade e encontrar um primo que ainda mora por lá e na época era meio, ou muito, louco para ver pegas de moto e de carros.
Pois é....23 anos depois volto a visitar a cidade.

A sensação que me passa deve ser a mesma que nossos pais e avós têm ou tiveram quando voltaram às suas cidades depois de várias décadas. Sempre pensei que não fosse ver tão grande diferença e desenvolvimento como eles viram, que nasceram numa época onde mal se pegava o sinal de rádio e agora vivem na era da internet banda larga, que nasceram numa época onde carros eram poucos e raros e agora vivem em cidades “atopetadas” de veículos; onde uma viagem pra Europa era coisa de milionários e hoje podemos ir facilmente em férias e até em um feriadão curtir uns dias.

Fiquei quase dez anos sem ir a Salvador e fiquei impressionado, mas....23 anos sem ir a BH me impressionou muito mais. Com exceção da parte que já era a mais desenvolvida da cidade como o alto da Afonso Pena com Mangabeiras, Cruzeiro, Serra, toda a cidade se expandiu de uma maneira impressionante. A região das Seis Pistas em Nova Lima onde íamos assistir aos pegas, está lotada de prédios, condomínios, shoppings e tudo mais que é desnecessário enumerar para o que esperamos de uma cidade com mais de 2,5 milhões de habitantes. Mas certas coisas não mudam nem com o tempo: o mineiro é de uma hospitalidade impressionante; seu jeito quieto de lidar com o dia a dia, que é típico de um povo que precisava manter o silêncio na época da mineração e não espalhar que havia encontrado ouro ou diamantes já que o risco de ser morto ou roubado e ainda altamente taxado pela Coroa Portuguesa era enorme e, não posso esquecer da mulher mineira, que não consigo entender qual a razão de serem tão lindas e simpáticas além de terem aquele sotaquezinho delicioso.

Imagino agora o que ainda virá. Como estarão as cidades que conheci pelo Brasil e pelo mundo todo nos próximos 10, 20 anos. E isso só ajuda ainda mais a desenvolver meu prazer por viajar, conhecer novas e visitar velhas conhecidas, que é muito parecido com fazer novos amigos e reencontrar os velhos, que como as cidades, apesar do tempo passado, ainda guardam na sua essência a personalidade e o estilo de cada um.

sábado, 2 de outubro de 2010

Raízes

Andando por aí observo e sinto o apego que a grande maioria das pessoas tem pela sua cidade, seu bairro, sua casa. Nasceram ali, cresceram, fizeram amizades, estudaram, casaram, tiveram filhos e não pensam em sair dali de maneira nenhuma. São as raízes.


Em minhas viagens, por todos os países que passei, independente da raça, cor, nacionalidade, religião, a grande maioria das pessoas é extremamente apegada à terra e, se refletirmos sobre o assunto, nos deparamos com o fato que durante a maior parte de nossa existência fomos nômades e consumíamos o que a bendita terra nos dava, mas a partir do momento que desenvolvemos a agricultura, fizemos como a maioria dos animais selvagens que vivem próximo de uma fonte de água e nos prendemos ao local que nascemos pois ali, onde trabalhamos a terra e onde houvesse uma fonte de água, estaria nosso sustento.


Nos tornamos apegados à terra por necessidade e esse hábito se apegou à raça humana de tal maneira, que mesmo hoje, quando a maioria de nós não precisa trabalhá-la pra se alimentar e morar perto de uma fonte, continuamos apegados ao local onde nascemos. Talvez a resposta para esse comportamento é que ele poderia estar programado em nosso cérebro como muitos outros hábitos que temos e sequer notamos, mas o desenvolvimento da agricultura é muito recente e não teria havido tempo hábil para que nosso cérebro se reprogramasse. Então, a única explicação é que nos condicionamos, e esse condicionamento está diretamente ligado à zona de conforto a qual inconscientemente – ou até conscientemente – buscamos e que nos mantém fixo em algum emprego, por mais que não seja o que queremos, a algum relacionamento, apesar de sabermos que está falido e à uma cidade, apesar de sonharmos com um outro tipo de vida em um outro lugar com outras pessoas... mas essa mudança demandaria esforço, recomeço, dificuldades, adaptação e, como da maneira que está é mais fácil, assim levamos a vida.


Recentemente quando estive no interior do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, conheci muitas pessoas que vivem uma vida tranqüila, com os mesmos amigos desde a infância, os filhos estudando na mesma escola onde eles estudaram, freqüentando o mesmo clube, e começo a me questionar o que realmente somos e como nos portamos, afinal não somos o mesmo ser de há 10.000 anos quando desenvolvemos a agricultura, sequer o mesmo homem do século XIX. Então, porque ainda seguimos tão apegados a terra e sentimos tanta necessidade de criarmos raízes? E o nosso passado nômade, desbravador, mutante e adaptável, onde foi parar?


A agricultura, inicialmente um trabalho árduo que demandava a união de toda a família, de toda a comunidade, onde tínhamos que desbravar terras, nos adaptar a cada ambiente e clima, acabou dando início a um novo comportamento, pois pôde proporcionar através da concentração populacional, desenvolvimento de atividades industriais e culturais e, mesmo sem saber disso, ser a raiz da zona de conforto onde a raça humana se coloca atualmente.



sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Será que é só comigo?

Toca meu despertador com algum mantra previamente escolhido. Acordo. Tiro a máscara e o tapa-ouvidos. Abro os olhos e não sei onde estou – afinal, desde 2005 dormi em mais camas diferentes que muita garota de programa. Levo algum tempo pra me achar. Jogo as pernas pro lado e me sento. Olho ao redor completamente sonzo. Saio da cama. Abro as cortinas para ver o dia, se for dia. Arrumo os lençóis, o travesseiro e o edredon. Cato meus óculos e o livro que estou lendo. Pego uma camiseta branca e uma boxer pra vestir depois do banho. Meus pés me arrastam pro banheiro. Passo reto pelo espelho pra não me achar mais velho do que estou. Penduro o short em algum gancho, levanto o assento da privada - o assento todo, não só a tampa - sento e começo a ler. Perco totalmente a noção da hora – isso desde pequeno. Sempre gostei de ler no banheiro e me esquecia do mundo. Minha mãe e meus primos sempre diziam que eu tinha o cú alfabetizado. Ponho os óculos e o livro de lado. Tiro a camisa com a qual dormi. Entro no box depois de achar a temperatura certa. Tomo banho com calma e medito no chuveiro... Alguns cantam, eu medito. Shampoo e sabonete. Cabeça, ombro, joelho e pé, joelho e pé, joelho e pé. Agarro a toalha e me enxugo sempre da mesma forma e no mesmo sentido. Saio seco – trauma de infância, de tanto levar esporro por molhar o banheiro todo. Finalmente me olho no espelho. É, não to mal !! Enrolo a toalha na cintura - porque faço isso não sei, moro sozinho, poderia simplesmente pendurá-la, tenho tentado, mas... hábitos são hábitos. Pego o creme de barbear e acabo usando-o como desodorante e aí me toco que to com o suvaco cheio de espuma. Passo a toalha. Pego o creme novamente e dessa vez o uso da maneira correta. Tento tirar a barba mas ainda estou meio sonzo de sono. A lâmina tá nova e arranco um naco do nariz. Logo depois outro desse meu impossível queixo redondo. Colo um pedaço de papel higiênico e pára de sangrar. Já estou acordado, mas semi mutilado. Desodorante. Visto a camiseta branca e a boxer. Ajeito o cabelo. Penduro a toalha. Pego o short e a camisa e saio do banheiro. Os coloco debaixo do travesseiro. Ligo o som ou o Bom Dia Brasil. Vou à cozinha, preparo e coloco na chapa o sanduíche de queijo minas, faço o Nescau e separo a granola, as frutas e o yogurte. Volto pro quarto. Perfume. Jeans. Meias. Sapato. Camisa Social. Perfume. O sanduíche tá pronto. Paro na cozinha e como assistindo a TV. Coloco a louça na pia com água. Escovo os dentes. Junto a carteira, o celular, as chaves e a mochila. Desligo a TV. Saio. Elevador. Bom dia. Fui.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Em busca da imortalidade.

Andando por aí, me deparo frequentemente com a morte.

Ela está presente todo o tempo, mesmo que tentemos nos alienar e não pensar ou sentir sua onipresença a vemos quando folheamos o jornal, uma revista, na TV ou simplesmente conversando com amigos e, independentemente de se tratar da passagem de um intelectual ou uma pessoa “comum”, me pego imaginando a quantidade de conhecimento que se perde quando alguém se vai. Conhecimento somente não. Impressões, emoções e tudo o mais que acumulamos, aprendemos e absorvemos durante a vida.

Recentemente lendo Minha Formação de Joaquim Nabuco, o grande político abolicionista que viveu, analisou e escreveu não somente sobre a sociedade brasileira do fim do século XIX, como também a sociedade e o sistema político monarquista inglês em comparação com o sistema presidencialista americano e sentir que suas idéias e pensamentos chegaram a mim, me fez compreender que existe sim uma maneira simples e clara de mantermos ao menos parte de nosso conhecimento vivo após nossa partida.

Essa impressão começou a amadurecer quando, no início do ano, caiu em minhas mãos meio que por acaso durante uma faxina que fazia na casa de minha mãe o livro Va dove ti porta il cuore* de uma escritora italiana chamada Susanna Tamaro. Nesse livro, a personagem, uma senhora que ao sentir que o momento da morte se aproximava, decide não comunicar sobre seu estado à neta órfã que criou e que estava estudando em outro país para que ela não se sentisse na obrigação de suspender os estudos e acompanhá-la em seus últimos dias e passa a relatar os fatos que sentiu e viveu, impressões que teve, interpretações particulares sobre fatos da vida e do dia a dia e que nunca antes havia contado à ninguém.

O ideal seria que pudéssemos fazer um back up de tudo que foi armazenado em nosso cérebro durante nossa existência para que nada fosse perdido.

Tomemos por exemplo pessoas como Einstein ou Gandhi ou Aristóteles ou Confúcio ou Jorge Amado ou Tom Jobim que apesar de terem partilhado muito de todo o conhecimento adquirido e desenvolvido durante suas vidas, com certeza muito se perdeu com o fim de suas existências. O conhecimento, assim como o amor, creio, são as únicas duas coisas que quanto mais partilhamos mais cresce, por isso, nem um nem outro pode morrer conosco.

Assim, como ainda não existe essa “máquina” onde possamos armazenar todas as nossas sensações, impressões, amores, dores e conhecimento, já desenvolvemos há centenas de anos um paliativo que nos auxilia nessa eterna busca para salvar os “dados” de nosso cérebro e não deixar que se perca tudo o que vimos, sentimos e vivemos: a escrita.

Creio assim que a possibilidade de partilhar a maneira como vejo o mundo é uma das razões mais fortes que me levam a escrever. Quando me for, meu corpo terá ido, mas minhas idéias, percepções, sensações, desejos, frustrações, prazeres e sofrimentos estarão, ao menos em parte, resguardados da morte.


*vá onde teu coração te levar

quarta-feira, 10 de março de 2010

As pessoas detestam quem pergunta.

Por quê ? Por que dessa forma se existe uma outra melhor? Por que não parar e analisar um comportamento, procedimento ou sistema e entender se existe maneira melhor ou mais simples de fazê-lo.

Por que as pessoas detestam questionamento?

Porque isso as tira de suas zonas de conforto, as faz pensar e tentar buscar explicações que elas no fundo desconhecem e preferem continuar desconhecendo.

Assim se alguém começa a questionar o funcionamento de algum sistema, de uma ação, de um comportamento, tentando levantar informações ou simplesmente entender, os envolvidos se sentem invadidos e, depois de tentar responder por educação e não encontrar uma boa resposta, se fecham. Quando se é criança as pessoas tem um pouco mais de paciência, mas logo te mandam ficar quieto ao invés de incentivar sua curiosidade.

Questione o “óbvio” e veja quais as respostas que surgirão.

Como as novas pessoas e as pessoas novas tem uma visão “de fora”, surgem com novas perguntas e logo encontram brechas que podem ser melhoradas. Passado algum tempo, para não causar incômodo ou até para que não as excluam, passam a deixar suas idéias e sugestões de lado e se envolvem no sistema tornando-se mais um. E aquele que continua tentando entender melhor, mostrar o que pode ser melhorado, insiste em continuar questionando, é visto como um pária e em pouco tempo o sistema o expele.

O que me vem à cabeça são duas histórias. A primeira é a Alegoria da Caverna de Platão, onde um grupo vivendo acorrentado numa caverna vendo somente as enormes sombras que são projetadas na parede, acreditam que o mundo é aquele, feito de gigantes. Quando um deles se liberta, conhece o lado de fora e volta pra contar, os que continuaram na caverna não acreditam em nada que ele diz e continuam apegados à seu mundinho, pois é mais tranqüilo, mais confortável e mais fácil viver na “ignorância”.

A segunda história é sobre a experiência com Os Macacos e a Escada. Colocaram cinco macacos numa jaula e um cacho de banana no alto da escada. Sempre que um macaco começava a subir a escada pra pegar as bananas atirava-se um jato de água nos que ficavam embaixo. A cada vez que isso acontecia os macacos que ficavam batiam no que tenta subir para não serem “duchados”. A cada período trocava-se um macaco. O novo tentava subir a escada e apanhava dos outros mesmo antes de ser acionado o jato de água, pois os antigos "sabiam" que seriam “duchados”. Assim o novo desistia de subir. Trocava-se novamente outro e outro e outro macaco. No final tínhamos cinco novos macacos, que NUNCA haviam sido “duchados” e que não subiam a escada para pegar as bananas. Não sabiam o porquê, mas como sempre havia sido assim eles não subiam.

Então, já pensou quantas vezes você agiu dessa maneira? Quantas vezes você sofreu por agirem dessa maneira com você? Quantas vezes você viu agirem dessa maneira?

Temos isso todos os dias o tempo todo na sociedade, na nossa vida comum, quando padronizamos a educação de nossos filhos, nas empresas onde trabalhamos ou onde pretendemos trabalhar, afinal o primeiro setor que age dessa maneira é o setor que seleciona as pessoas, que devem se alinhar claramente com o perfil, espírito e sistema da empresa, ser Another brick on the wall*.

Assim, a cada passo, a cada dia, precisamos de pessoas, como Chiquinha Gonzaga, Leila Diniz, Nelson Mandela, que corram o risco de apanhar e nos mostrem que vale a pena subir a escada para alcançar aquele cacho de banana com o qual todos sonham. Que está ali, ao alcance de nossas mãos mas que, não se sabe porque, ninguém se atreve a esticar o braço e alcançá-lo. Pessoas que nos mostrem que regras podem ser quebradas, que existe vida interessante, soluções criativas e comportamentos enriquecedores fora da caverna.

É...acho que por isso Saí pra dar uma volta... e continuo Andando por aí...



*música do Pink Floyd do filme The Wall (a parede ou o muro). A frase significa: mais um tijolo na parede, no muro.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Última Viagem

Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, final de tarde de domingo dando uma caminhada solitária pela orla. O espelho d´água praticamente liso. De um lado a vista das costas do Cristo. Do outro, os prédios de Ipanema delineando o “horizonte”. Algumas garças voando baixo e outras caminhando na parte mais rasa em busca de alimento. A vegetação, que tomou parte da margem, agora vive cheia de pequenos pássaros e caranguejos.

Pessoas caminhando com seus filhos, andando de bicicleta e outros correndo. Famílias e amigos sentados nos pequenos restaurantes-quiosques e a pelada rolando solta no campo ao lado do heliporto.

Ao meu lado a barraquinha de água de côco, uma mesa de xadrez abandonada e carros passando velozmente pela Borges de Medeiros em direção ao Rebouças.

Tudo praticamente como sempre esteve desde os meus 14 anos quando me mudei de São Pedro D´Aldeia pro Rio e comecei a freqüentar o Clube Naval.

A temperatura estava perfeita e pra melhorar uma pequena brisa passou pelo meu corpo e me deixou com uma sensação de que aquele era um momento marcante – tanto o foi que se eternizou nesse texto - e, nesse momento, lembro de todos que já se foram. Fisicamente ou Espiritualmente. Lembro que faz um ano que minha irmã desencarnou. Lembro que faz um ano que reentrei no Brasil.

Minha irmã e eu nunca fomos muito próximos, talvez pela diferença de idade, mas a lembrança de sua partida me suscitou alguns pensamentos que se mesclaram com outros sobre minhas viagens e a vida e, pensando no prazer das sensações que estava tendo ali, naquele momento, me dou conta que tanto ela como os outros que já partiram não mais terão a possibilidade de sentir esses pequenos prazeres e vem a minha cabeça que mesmo estando aqui, vivo, existem sensações das minhas viagens que provavelmente nunca mais voltarei a ter.

As pessoas que se foram não mais sentirão a brisa do fim de tarde bater no rosto, a ressaca do dia seguinte, o sabor de uma maravilhosa torta de limão, a emoção de um beijo, a chuva molhando o corpo num dia de calor, a emoção de um gol da vitória no fim de uma partida, a delícia de um chopp gelado no fim de uma tarde de trabalho.

As pessoas que já viajaram e experimentaram novas culturas, prazeres, sabores, cheiros e gostos, essas também serão para sempre reféns das "sensações perdidas".

Claro que existem coisas aqui na minha terra das quais teria que abrir mão se fosse viver em outros países e também existem coisas em outras dimensões que por estarmos aqui não temos a possibilidade de sentí-las.

Sempre, querendo ou não, temos que abrir mão de algumas coisas para termos outras. Melhor dizendo, abro mão de coisas de outros lugares, cidades, países para ter coisas que só posso encontrar aqui ou vice-versa. Algumas eu gosto, outras não.

Sei que dificilmente viverei novamente a sensação de tomar um chá com monges em um Monastério no interior do Tibet, de comer o arroz com carne de cordeiro ao molho de amendoim da Sra Marmuda em Payagan, perto de Ubud na Indonésia, de tocar chocalho com um grupo de indianos no Forte de Meherangarh em Jodhpur e dos odores de incensos que se espalham pelas ruas da Índia e de tantos momentos únicos, que por serem únicos provavelmente nunca se repetirão. E assim fui deixando pra trás, ou pra dentro, um rastro de emoções e prazeres.

Mas minha escolha, desde o princípio era estar no Brasil.

Tudo bem, sei que outras coisas estão por vir mas essas que passaram provavelmente não terei mais, ou mesmo que as tenha não serão da mesma forma e com os mesmos "olhos" que tinha naquele momento. Em minha fé creio que minha irmã, e todos que se foram, tem também várias outras sensações e ocupações a ponto de lembrar com saudosismo do que viveram aqui, mas sem se lamentar por estarem por lá.

O que interessa é estarmos bem com nossas opções e vivê-las da melhor maneira possível.

Sendo aqui ou lá, jamais poderemos ter tudo que queremos. Sempre haverá um ou.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Saudações à Nação

O Tuninho é um operador de escavadeira, casado, tem um enteado e mora numa casa simples, de aluguel, no interior e que, casualmente, estava sentado ao meu lado em uma das topiques que faz o transporte de Aracaju ao interior do estado. Como ele levava um adesivo com o escudo do Flamengo nas caixinhas de som do celular que ele mesmo armengou* acabei puxando conversa.

Durante o papo ele me contou que normalmente consegue bons trabalhos na capital e fica com a família nos fins de semana. Tira uns R$900 líquidos por mês, que tem que dar conta de aluguel, comida, transporte e pequenas diversões, como tomar uma cervejinha no boteco e ir prum forrozinho de quando em vez.

Como o assunto tinha começado pelo escudo do Flamengo, a prosa tomou esse rumo. Ele me contou da sua paixão, de como as cidades do interior ficaram tomadas por carreatas e festas pela conquista do Campeonato, que ele não conseguia acreditar e entender de onde haviam saído tantos Flamenguistas e também me contou do seu orgulho de ter comprado não uma, mas duas camisas oficiais.

E aí comecei a ter uma noção do amor que as pessoas tem pelo seu time.

Tuninho, que recebe dois salários mínimos por mês, pagou, sem pestanejar, um terço de seu salário para comprar duas camisas oficiais do Flamengo que seriam sua lembrança da façanha do hexa campeonato. Um terço de seu salário!!!

Meu pai me levava ao Maracanã desde os três anos de idade. Eu tinha até uma carteirinha de menor torcedor que era exigida na época para que freqüentasse o estádio. Das seis finais de Brasileirão que ganhamos, estive em três, inclusive muito próximo de cair da arquibancada na final de 92 com o Botafogo quando parte da grade cedeu e alguns torcedores despencaram.

Assisti a guerra da final da Libertadores onde um de nossos maiores heróis, Anselmo, entrou em campo no final da partida, apenas pra dar um cruzado e nocautear um jogador adversário que vinha jogando com uma pedra na mão. Lavou nossa honra. É, isso ainda existe !!!

Festejei de madrugada o título mundial em 81.

Fui inúmeras vezes ver o Zico e nossos jogadores Flamenguistas de verdade no Maraca...

Amo meu time de paixão, como creio que todos os brasileiros que gostam de futebol também amam os seus. Trocamos de emprego, cidade, mulher, carro, mas nunca trocamos de time. Isso é inaceitável pra um brasileiro.

Quando nos embrenhamos pelo interior do Nordeste, algo como tentar entender que alguém que mora num casebre, não tenha água corrente e se esforça pra manter a família com dois salários mínimos paga, com prazer, R$300,00 em duas camisas oficiais, é quase incompreensível, inexplicável.

Andando por aí sempre me deparei com o amor que os Flamenguistas tem pelo time e como isso está espalhado e arraigado em cada estado onde os times locais não são, ou não eram, competitivos suficientes. Claro que isso se deveu à Rádio Nacional, que transmitia os jogos da capital do país, o Rio de Janeiro, ajudando a expandir essa paixão e também ao fato que na época de ouro do Flamengo, ganhando um mundial, uma Libertadores e três campeonatos brasileiros em quatro anos, coincidiu com o momento que as Tv´s começavam a transmitir os jogos ao vivo para todo o país.

Vejo carros pintados de preto e vermelho, bares, bicicletas, todo o tipo de indumentária e pessoas gastando o pouco que tem pra ter algo que mostre aos amigos e a família que ele faz parte dessa grande nação, da maior nação torcedora de um time de futebol no planeta – a Nação Rubro Negra.

A paixão dessa nação me surpreende.

E o clube, como o povo, continua pobre.




* armengar – montar, improvisar

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Natal na Caatinga

Onze da manhã. O sol tá quente demais. A brisa tá quente demais. Não dá pra sair de casa. Não dá pra ficar se mexendo muito e depois de me empanzinar com a ceia de Natal de ontem, acordei com o galo cantando e um café da manhã com cuscuz de milho, manteiga de garrafa, queijo de coalho, carne de sol, ovos caipira fresquinhos e leite recém tirado da vaca. Me empanturrei de novo. Então, a única coisa possível e confortável é ficar lagartixando no piso de cimento vermelho fresquinho, típico das casas dessa região. É. Isso é um dia na Caatinga. O sol da Caatinga não perdoa.

Minha mãe nasceu no interior do Sergipe e emigrou pro Rio onde conheceu meu pai, cearence. Boa parte de seus primos, tios e tias ficaram em suas pequenas fazendas e sítios ao redor de Itabaiana, que é a maior cidade do estado depois de Aracaju onde há mais de 10 anos ela voltou a morar. Resolvi que esse ano passaria o Natal com ela e acreditava que curtiríamos a ceia em sua casa junto com amigos e familiares.

Santa inocência!!! Afinal, em se tratando da minha mãe – acho que tive a quem puxar – tudo é meio surpreendente e inesperado. E aí que começa a aventura.

Na véspera do Natal, pouco depois das três da tarde, ela me comunica que cearíamos e passaríamos o fim de semana numa pequena fazenda no município do Carira, ao lado do posto fiscal na fronteira do Sergipe com a Bahia e que, por ser tão remoto, foi fechado por falta de movimento na estrada.

É o meio de lugar nenhum. É Caatinga meeeeeesmo !!!

Mas as “informações” da minha mãe não tinham acabado. Em seguida ela me informa que o carro no qual ela iría estava lotado - só haveria lugar pra ela - e que o último ônibus direto para o Carira já havia saído, assim eu ia ter que me virar pra chegar lá.

Ok. Pra quem chegou ao interior do Tibete sem autorização do governo chinês numa lotação onde só se falava tibetano, chegar ao interior do Sergipe parecia ser moleza. O problema é que era 24 de dezembro, véspera de Natal!!!

Fui !

Primeiro tomei um ônibus da casa da mãe até o terminal. Depois tomei uma topíque - que é como eles chamam os microônibus aqui - até Itabaiana onde deveria baldear, já que não havia mais transporte direto até o Carira.

Depois de hora e meia de viagem cheguei a Itabaiana e descobri, ao encontrar duas outras almas perdidas que já estavam esperando no ponto há horas, que não havia mais nenhum transporte público e que as únicas opções que restavam eram fretar um táxi ou ir pra estrada pedir carona.

Pra quem me conhece não é muito difícil imaginar qual foi minha opção.

Dez minutos de caminhada depois estávamos os três de pé no trevo de saída da cidade, com o polegar esticado, às oito da noite, tentando encontrar algum ser caridoso numa estrada vazia que nos levasse pelos 60 km de estrada que faltavam para chegar ao Carira, de onde eu ainda teria que tomar um moto taxi, se houvesse, até a fazenda.

Passado meia hora, ninguém havia parado.

Passado uma hora, quando já começávamos a pensar em ligar pro taxista pra nos levar lá, de repente, um Corsa reduz e pára 50 metros à frente. Corro pra falar com o motorista e quando chego ao lado do carro, dou de cara com quem?? ....... Minha mãe, sua amiga, as duas filhas e o marido.

O carro estava lotado, mas claro, eles não poderiam me deixar ali. Nos apertamos e fui.

Sorte que me viram naquele trevo, caso contrário creio que passaria a noite de Natal sentado à beira da estrada, na caatinga, com dois outros viajantes que acabara de conhecer...

domingo, 17 de janeiro de 2010

Vida em Pausa

Acordei e não tinha nenhuma nova notícia. Apenas a eterna repetição das mesmas dos últimos dias, meses, anos... Não que isso seja muito diferente do que acontece o ano inteiro, pois se pegarmos uma edição do JN de 1995, 1987, 1979 ou qualquer outro ano, quase nada se altera. Mas nessa época do ano a coisa piora muito !!

Para os aficcionados por esporte, não temos futebol – apenas aqueles jogos de confraternização dos Amigos do Locha X Amigos do Sunda e alguns jogos beneficentes. Estranho os jogadores, passam o ano todo jogando futebol e nas férias fazem o quê? Jogam futebol.

Não temos F1, porque os pilotos, como estrelas que são, parecem os políticos brasileiros, como estrelas que acham que são, e tiram ao menos três meses de férias por ano.

Não temos vôlei. Se bem que ultimamente tem sido um “marasmo” de vitórias tão grande que assistimos apenas pra tentar descobrir quando uma de nossas seleções vai deixar de ganhar algo.

Não há tênis. Não há basquete. Não há NFL que é igual à competição de revezamento: todo ano, ou quase, um time diferente ganha ou, de ciclo em ciclo, algum time que “inexistia” aparece vencendo - com exceção do Detroit Lions que ninguém sabe mesmo o que faz ali. Se bem que pensando melhor, pra nós brasileiros, esses últimos esportes não existem mesmo já que o que conta de verdade é o futebol, a F-1 e o vôlei.

Então, o que a mídia faz nesse período é mostrar os melhores momentos, melhores jogos, melhores resumos, melhores comentários, retrospectivas e o cacete-a-quatro. E reprise sabe como é né? A melhor definição é a nossa resposta ao comentário feito pela maioria das mulheres quando temos algum compromisso na hora do jogo e elas nos dizem pra gravar e assistir depois. Porra!!! Depois? Reprise de evento esportivo é pior que transar de camisinha. E pra complementar a desgraça os canais, sites e jornais de esporte não tem do que falar e ficam inventando boatos de negociações entre clubes e jogadores porque os chefes de redação tem que encher as páginas e forçam a molecada nova a correr atrás de transformar nada em “informações”.

Já para os que gostam de séries, todas entram em férias e temos que nos contentar com reprises e maratonas dos episódios anteriores que os departamentos de marketing dos canais tentam valorizar ao máximo mesmo sabendo que os que gostam mesmo e querem ver de novo certos episódios ou montar uma maratona com os amigos, baixam tudo na web.

Para os que gostam de novelas – que saudade do Opash !! – as grades ficam tão doidas com o horário de verão que na Bahia, por exemplo, o JN entra antes da novela das sete e tem dia que a novela das nove começa às onze da noite e pra piorar só mostram as festas de Natal e Ano Novo, nada mais acontece, porque ninguém tá assistindo mesmo !!!

Pra quem gosta de rir só fica o Zorra Total que, infelizmente, não sai de férias... Desculpe. Eu falei pra quem gosta de rir, então esse não vale. Mas o CQC entra em recesso, afinal a fonte das piadas deles também “recessou”.

Os teatros param. O cinema só tem filmes infantis.

Me sinto nesse período de fim de ano como devem se sentir na semana de carnaval as pessoas que não curtem a folia, ou seja, condenado a fazer o que todos fazem por pura falta de opção ou para não ser qualificado de anti-social !!! Graças a Deus ainda temos os espaços culturais isso e os centros culturais aquilo que acabam nos salvando um pouco.

Não temos outra escapatória, a não ser mergulhar num livro, fugir prum sítio, entrar prum monastério tibetano, ir prum Ashram na Índia. Acabamos sendo forçados a pensar, discutir, refletir, conversar, a estar mais tempo com nós mesmos e junto com a família e com os amigos que nunca vemos por pura falta de tempo...

Então, será que a vida pára ou será que ela entra em pausa nesse período?

Ou ao contrário: será que na verdade esse é o único período no qual realmente vivemos e temos tempo pra compartilhar?

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Reencontro

Tava andando por aí depois de passar essa incrível noite de ano novo em claro e conclui que só conseguiria dormir depois de colocar no papel o que me aconteceu.

O reveillon foi inesquecível e perfeito no Porto da Barra em Salvador.

Estava sentado na areia, final de tarde, pensando no quanto estava solitário recomeçando minha vida exatamente no mesmo ponto onde ela havia pausado há exatos cinco anos. Repassando tudo o que aconteceu nesse maldito e bendito período quando, logo após um por do sol perfeito quase sobre a Ilha de Itaparica, reencontrei com ela na mesma data na qual estivemos juntos há cinco anos - mais uma das "coincidências" da minha existência.

Ela surgiu à minha esquerda: tranquila, silenciosa, linda, com um brilho fantástico e parecia vir em minha direção, como naquele reveillon 2004/2005 na Praia do Rosa em Santa Catarina.

Ficamos juntos num silêncio cúmplice, como se nós dois soubéssemos exatamente o que deveríamos dizer um pro outro e ouvir um do outro. A sua companhia e proximidade preenchia minha noite. Em alguns momentos fomos atrapalhados por pessoas que passavam enquanto curtíamos juntos o excelente show de Emanuelle Araújo e, quando assistíamos aos fogos da meia noite, tentava não tirar os olhos dela. Os mesmos fogos, sobre o mesmo oceano, na mesma hora de há cinco anos....

Na madrugada ela não parecia cansada. Se destacava de tudo e de todos, mas parece que só eu a via. Na verdade parece que só havia ela no meu mundo.
Juntos entramos na água e entregamos uma rosa branca a Iemanjá.

Me vi de novo completamente apaixonado como há cinco anos e com a certeza que carregaria para sempre, até mesmo após a minha morte, sua imagem tatuada em meu corpo.

Já pela manhã, com o sol surgindo, sabia que ela teria que ir, sabia que não seria fácil nos encontrarmos dessa forma, num momento como esse de uma data tão propícia. Mas tinha certeza absoluta que voltaríamos a estar juntos com a frequencia possível.

Sei que muitas vezes, como acontece com todos nós, ela poderia não estar presente por inteiro, mas estaria lá.

Em outras vezes poderia estar mais apática, como em um dia nublado, ou chorosa, num dia de chuva, mas estaria lá. Sempre.

A minha Lua.