terça-feira, 7 de setembro de 2010

Em busca da imortalidade.

Andando por aí, me deparo frequentemente com a morte.

Ela está presente todo o tempo, mesmo que tentemos nos alienar e não pensar ou sentir sua onipresença a vemos quando folheamos o jornal, uma revista, na TV ou simplesmente conversando com amigos e, independentemente de se tratar da passagem de um intelectual ou uma pessoa “comum”, me pego imaginando a quantidade de conhecimento que se perde quando alguém se vai. Conhecimento somente não. Impressões, emoções e tudo o mais que acumulamos, aprendemos e absorvemos durante a vida.

Recentemente lendo Minha Formação de Joaquim Nabuco, o grande político abolicionista que viveu, analisou e escreveu não somente sobre a sociedade brasileira do fim do século XIX, como também a sociedade e o sistema político monarquista inglês em comparação com o sistema presidencialista americano e sentir que suas idéias e pensamentos chegaram a mim, me fez compreender que existe sim uma maneira simples e clara de mantermos ao menos parte de nosso conhecimento vivo após nossa partida.

Essa impressão começou a amadurecer quando, no início do ano, caiu em minhas mãos meio que por acaso durante uma faxina que fazia na casa de minha mãe o livro Va dove ti porta il cuore* de uma escritora italiana chamada Susanna Tamaro. Nesse livro, a personagem, uma senhora que ao sentir que o momento da morte se aproximava, decide não comunicar sobre seu estado à neta órfã que criou e que estava estudando em outro país para que ela não se sentisse na obrigação de suspender os estudos e acompanhá-la em seus últimos dias e passa a relatar os fatos que sentiu e viveu, impressões que teve, interpretações particulares sobre fatos da vida e do dia a dia e que nunca antes havia contado à ninguém.

O ideal seria que pudéssemos fazer um back up de tudo que foi armazenado em nosso cérebro durante nossa existência para que nada fosse perdido.

Tomemos por exemplo pessoas como Einstein ou Gandhi ou Aristóteles ou Confúcio ou Jorge Amado ou Tom Jobim que apesar de terem partilhado muito de todo o conhecimento adquirido e desenvolvido durante suas vidas, com certeza muito se perdeu com o fim de suas existências. O conhecimento, assim como o amor, creio, são as únicas duas coisas que quanto mais partilhamos mais cresce, por isso, nem um nem outro pode morrer conosco.

Assim, como ainda não existe essa “máquina” onde possamos armazenar todas as nossas sensações, impressões, amores, dores e conhecimento, já desenvolvemos há centenas de anos um paliativo que nos auxilia nessa eterna busca para salvar os “dados” de nosso cérebro e não deixar que se perca tudo o que vimos, sentimos e vivemos: a escrita.

Creio assim que a possibilidade de partilhar a maneira como vejo o mundo é uma das razões mais fortes que me levam a escrever. Quando me for, meu corpo terá ido, mas minhas idéias, percepções, sensações, desejos, frustrações, prazeres e sofrimentos estarão, ao menos em parte, resguardados da morte.


*vá onde teu coração te levar

Um comentário:

Luciana Campello disse...

Hoje, com 37 anos, ainda tenho um diário (com uma diferença: online). E também gosto de compartilhar meus "flashes de lucidez" no meu blog. Muitas pessoas confundem isso com exibicionismo, pois adoro colocar mil fotos (gosto de passar meus sentimentos através das fotos que tiro e das que me clicam). Pode até ser um pouco, admito. Mas meu foco é deixar um pouquinho de mim em cada pessoa que "me lê". Talvez essa seja minha forma de buscar a imortalidade.