segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Natal na Caatinga

Onze da manhã. O sol tá quente demais. A brisa tá quente demais. Não dá pra sair de casa. Não dá pra ficar se mexendo muito e depois de me empanzinar com a ceia de Natal de ontem, acordei com o galo cantando e um café da manhã com cuscuz de milho, manteiga de garrafa, queijo de coalho, carne de sol, ovos caipira fresquinhos e leite recém tirado da vaca. Me empanturrei de novo. Então, a única coisa possível e confortável é ficar lagartixando no piso de cimento vermelho fresquinho, típico das casas dessa região. É. Isso é um dia na Caatinga. O sol da Caatinga não perdoa.

Minha mãe nasceu no interior do Sergipe e emigrou pro Rio onde conheceu meu pai, cearence. Boa parte de seus primos, tios e tias ficaram em suas pequenas fazendas e sítios ao redor de Itabaiana, que é a maior cidade do estado depois de Aracaju onde há mais de 10 anos ela voltou a morar. Resolvi que esse ano passaria o Natal com ela e acreditava que curtiríamos a ceia em sua casa junto com amigos e familiares.

Santa inocência!!! Afinal, em se tratando da minha mãe – acho que tive a quem puxar – tudo é meio surpreendente e inesperado. E aí que começa a aventura.

Na véspera do Natal, pouco depois das três da tarde, ela me comunica que cearíamos e passaríamos o fim de semana numa pequena fazenda no município do Carira, ao lado do posto fiscal na fronteira do Sergipe com a Bahia e que, por ser tão remoto, foi fechado por falta de movimento na estrada.

É o meio de lugar nenhum. É Caatinga meeeeeesmo !!!

Mas as “informações” da minha mãe não tinham acabado. Em seguida ela me informa que o carro no qual ela iría estava lotado - só haveria lugar pra ela - e que o último ônibus direto para o Carira já havia saído, assim eu ia ter que me virar pra chegar lá.

Ok. Pra quem chegou ao interior do Tibete sem autorização do governo chinês numa lotação onde só se falava tibetano, chegar ao interior do Sergipe parecia ser moleza. O problema é que era 24 de dezembro, véspera de Natal!!!

Fui !

Primeiro tomei um ônibus da casa da mãe até o terminal. Depois tomei uma topíque - que é como eles chamam os microônibus aqui - até Itabaiana onde deveria baldear, já que não havia mais transporte direto até o Carira.

Depois de hora e meia de viagem cheguei a Itabaiana e descobri, ao encontrar duas outras almas perdidas que já estavam esperando no ponto há horas, que não havia mais nenhum transporte público e que as únicas opções que restavam eram fretar um táxi ou ir pra estrada pedir carona.

Pra quem me conhece não é muito difícil imaginar qual foi minha opção.

Dez minutos de caminhada depois estávamos os três de pé no trevo de saída da cidade, com o polegar esticado, às oito da noite, tentando encontrar algum ser caridoso numa estrada vazia que nos levasse pelos 60 km de estrada que faltavam para chegar ao Carira, de onde eu ainda teria que tomar um moto taxi, se houvesse, até a fazenda.

Passado meia hora, ninguém havia parado.

Passado uma hora, quando já começávamos a pensar em ligar pro taxista pra nos levar lá, de repente, um Corsa reduz e pára 50 metros à frente. Corro pra falar com o motorista e quando chego ao lado do carro, dou de cara com quem?? ....... Minha mãe, sua amiga, as duas filhas e o marido.

O carro estava lotado, mas claro, eles não poderiam me deixar ali. Nos apertamos e fui.

Sorte que me viram naquele trevo, caso contrário creio que passaria a noite de Natal sentado à beira da estrada, na caatinga, com dois outros viajantes que acabara de conhecer...

Um comentário:

Simone Taylor disse...

Muito interessante, adoro suas aventura, prepara ai um livro para quando formos em Marco.