quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Reencontro

Tava andando por aí depois de passar essa incrível noite de ano novo em claro e conclui que só conseguiria dormir depois de colocar no papel o que me aconteceu.

O reveillon foi inesquecível e perfeito no Porto da Barra em Salvador.

Estava sentado na areia, final de tarde, pensando no quanto estava solitário recomeçando minha vida exatamente no mesmo ponto onde ela havia pausado há exatos cinco anos. Repassando tudo o que aconteceu nesse maldito e bendito período quando, logo após um por do sol perfeito quase sobre a Ilha de Itaparica, reencontrei com ela na mesma data na qual estivemos juntos há cinco anos - mais uma das "coincidências" da minha existência.

Ela surgiu à minha esquerda: tranquila, silenciosa, linda, com um brilho fantástico e parecia vir em minha direção, como naquele reveillon 2004/2005 na Praia do Rosa em Santa Catarina.

Ficamos juntos num silêncio cúmplice, como se nós dois soubéssemos exatamente o que deveríamos dizer um pro outro e ouvir um do outro. A sua companhia e proximidade preenchia minha noite. Em alguns momentos fomos atrapalhados por pessoas que passavam enquanto curtíamos juntos o excelente show de Emanuelle Araújo e, quando assistíamos aos fogos da meia noite, tentava não tirar os olhos dela. Os mesmos fogos, sobre o mesmo oceano, na mesma hora de há cinco anos....

Na madrugada ela não parecia cansada. Se destacava de tudo e de todos, mas parece que só eu a via. Na verdade parece que só havia ela no meu mundo.
Juntos entramos na água e entregamos uma rosa branca a Iemanjá.

Me vi de novo completamente apaixonado como há cinco anos e com a certeza que carregaria para sempre, até mesmo após a minha morte, sua imagem tatuada em meu corpo.

Já pela manhã, com o sol surgindo, sabia que ela teria que ir, sabia que não seria fácil nos encontrarmos dessa forma, num momento como esse de uma data tão propícia. Mas tinha certeza absoluta que voltaríamos a estar juntos com a frequencia possível.

Sei que muitas vezes, como acontece com todos nós, ela poderia não estar presente por inteiro, mas estaria lá.

Em outras vezes poderia estar mais apática, como em um dia nublado, ou chorosa, num dia de chuva, mas estaria lá. Sempre.

A minha Lua.

2 comentários:

Jackeline Senos disse...

Amei isso! Em plena loucura desse meu Rio de Janeiro eu sempre lanço um olhar apaixonado à procura dela; sempre a busco na tentativa de uma visão de calmaria e conforto no meio de tantos desconhecidos, de tanta selvageria urbana e ela me retribui e me dá a certeza de sempre estar ali. Em algum lugar... ela está ali.

Anônimo disse...

Dia 01.03.1987:
"Hoje, andando na cidade, vi-me encurralado,
Pelas feras;
Monstros de metal escondidos no chão,
E cospem fumaça com o grunido de um trovão,
Quais quimeras,
correndo uns dos outros numa raia de carvão.

HOje, andando na cida, deparei-me com outra fera,
que não sabia se chamava Ele ou Ela,
Era um mutante , semelhante a um guarda de saia,
Que cavalga num cavalo sem pé.

HOje, andando na cidade, ví-me refletido num mendigo.
Espelho doloroso , calendoscópio mau feito,
Cidade amarga, que me faz dividir o abrigo."

Escreví isso em 87, quando tinha vinte e poucos anos. Estava na N.S.de Copacabana, em noite de carnaval, vendo motos em fuga misturas a fuliões travestis. Saíu isso . Acho que naquele dia, sentí a mesma coisa que você. D

Durante o tempo que trabalhei na TVA, também disse a uma pessoa próxima de nós que a violência urbana vivia nas favelas, e que funcionaria como uma bomba relógio. Fui vorazmente criticado, como preconceituoso, acredita ?
Eu só enxergava a violência real a partir de seu embrião, só isso. Não fui politicamente correto, fui cirurgico e real.
Acho que as pessoas em geral deveriam , "mergulhar" no universo das favelas ( comunidade é hipocrisia , é favela mesmo! ) pra sentir exatamente o que os espera.
Vida ( normal ) em sociedade decorre da educação. Enquanto os políticos literalmente tentam esconder a sujeira pra baixo do tapete, mais crianças nascem em favelas, que formam gnovas gerações, filhoe, netos e bisnetos de favelados, lapidados pela "Lei do Mais Forte", pela adaptação a falta de espaço fisico e urbanização básica, pela Lei do Silêncio, pela sobrevivência a qualquer preço, pela segregação velada do asfalto, pela exploração do trabalho e sexual, e pelo conjunto de tudo isso, SOB O PRETEXTO DE RESIDIR próximo de um trabalho que nem exercem , que sequer conseguem !
De nada adiantará urbanizar, sem educação, diga-se, "especial" , no sentido de , além de prover-lhes a educação normal a todos, prover-lhes especificamente o direito de conhecer os bons valores morais da vida, como "amor ao próximo", respeito a propriedade alheia, bons costumes, etiqueta, Educação Moral e Civica, carinho, amor , senso familiar, enfim ...
Educar !
Na época da TVA, e posteriormente, quando fui GErente da TV Roc, levei todos que pude, pra jogar volei na quadra da minha casa na Barra da Tijuca,ensinei o que sabia ( sem limites e com carinho), conversei na linguagem idiomática local e os aproximei "do aslfato", "na moral", "no sapatinho". Não me arrependo. Foi indescritívelmente gratificante é único.
Pra acabar com a morte cotidiana, havemos de agir, principalmente com sinceridade e amor educando apenas uma pessoa pouco favorecida da favela, apenas uma !
Será o suficiente pra acabar com a violência urbana, nos próximos dez anos.
RICARDO SILVEIRA (41)9188-3919