sábado, 2 de outubro de 2010

Raízes

Andando por aí observo e sinto o apego que a grande maioria das pessoas tem pela sua cidade, seu bairro, sua casa. Nasceram ali, cresceram, fizeram amizades, estudaram, casaram, tiveram filhos e não pensam em sair dali de maneira nenhuma. São as raízes.


Em minhas viagens, por todos os países que passei, independente da raça, cor, nacionalidade, religião, a grande maioria das pessoas é extremamente apegada à terra e, se refletirmos sobre o assunto, nos deparamos com o fato que durante a maior parte de nossa existência fomos nômades e consumíamos o que a bendita terra nos dava, mas a partir do momento que desenvolvemos a agricultura, fizemos como a maioria dos animais selvagens que vivem próximo de uma fonte de água e nos prendemos ao local que nascemos pois ali, onde trabalhamos a terra e onde houvesse uma fonte de água, estaria nosso sustento.


Nos tornamos apegados à terra por necessidade e esse hábito se apegou à raça humana de tal maneira, que mesmo hoje, quando a maioria de nós não precisa trabalhá-la pra se alimentar e morar perto de uma fonte, continuamos apegados ao local onde nascemos. Talvez a resposta para esse comportamento é que ele poderia estar programado em nosso cérebro como muitos outros hábitos que temos e sequer notamos, mas o desenvolvimento da agricultura é muito recente e não teria havido tempo hábil para que nosso cérebro se reprogramasse. Então, a única explicação é que nos condicionamos, e esse condicionamento está diretamente ligado à zona de conforto a qual inconscientemente – ou até conscientemente – buscamos e que nos mantém fixo em algum emprego, por mais que não seja o que queremos, a algum relacionamento, apesar de sabermos que está falido e à uma cidade, apesar de sonharmos com um outro tipo de vida em um outro lugar com outras pessoas... mas essa mudança demandaria esforço, recomeço, dificuldades, adaptação e, como da maneira que está é mais fácil, assim levamos a vida.


Recentemente quando estive no interior do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, conheci muitas pessoas que vivem uma vida tranqüila, com os mesmos amigos desde a infância, os filhos estudando na mesma escola onde eles estudaram, freqüentando o mesmo clube, e começo a me questionar o que realmente somos e como nos portamos, afinal não somos o mesmo ser de há 10.000 anos quando desenvolvemos a agricultura, sequer o mesmo homem do século XIX. Então, porque ainda seguimos tão apegados a terra e sentimos tanta necessidade de criarmos raízes? E o nosso passado nômade, desbravador, mutante e adaptável, onde foi parar?


A agricultura, inicialmente um trabalho árduo que demandava a união de toda a família, de toda a comunidade, onde tínhamos que desbravar terras, nos adaptar a cada ambiente e clima, acabou dando início a um novo comportamento, pois pôde proporcionar através da concentração populacional, desenvolvimento de atividades industriais e culturais e, mesmo sem saber disso, ser a raiz da zona de conforto onde a raça humana se coloca atualmente.



2 comentários:

Luciana Campello disse...

Me identifiquei completamente. Muita sensibilidade nesse texto. Tem aí uma mensagem muito importante para reflexão...

Flor de cactos disse...

Engraçado,ando na contramão das coisas.Nasci na Bahia,passei minha vida toda em Sampa,mas não consigo esquecer minha cidade de origem. Me apego de uma forma infinita,como um pássaro que volta sempre ao seu ninho.