quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A ilha desconhecida

Viajar pra se conhecer ou viajar pra conhecer?
Viajar pra se conhecer e viajar pra conhecer?
Viajar sem se conhecer e sem conhecer?

Saramago tem um conto que se chama a Ilha Desconhecida e se resume a como vou me comportar ou quem sou (serei) eu quando lá chegar.

Por isso viajar não deve ser somente conhecer um lugar novo, uma cultura nova, comportamentos, sabores e cheiros mas, principalmente querer se conhecer.
No meu caso não é uma fuga de mim mesmo, mas um encontro comigo mesmo (já que fugimos disso o tempo todo no nosso dia a dia com medo do que podemos encontrar); é querer descobrir algo em mim que não tenho a oportunidade de conhecer dentro da sociedade onde vivo, do estilo de vida que me cerca, pelas modernidades e materialidades que me envolvem.
E não me restrinjo somente a viajar para poder me conhecer. Em todos os nossos relacionamentos creio que buscamos nos conhecer, ou mesmo, nos esquecer de quem somos.

Amo um lugar pelo que ele me faz tornar-me e gosto de me ver me comportando daquela maneira. Amo um amigo(a) pela maneira que ele(a) me faz sentir quando estou em sua companhia (mesmo que seja virtualmente). Amo uma mulher pelo que ela me faz sentir e pela maneira que passo a agir e o prazer que esse comportamento me proporciona, ou seja amo um lugar, um amigo, uma mulher pelo que me torno quando estou em sua companhia.
Amo viajar pelo “deslocamento” que isso causa em mim. Pelos relacionamentos que desenvolvo comigo mesmo quando encontro uma nova “ilha”, uma nova situação com a qual não havia me deparado antes e descubro uma nova faceta minha, uma nova maneira de me comportar, quando descubro que há algo em mim que sem esse relacionamento, sem esse deslocamento talvez nunca viria a conhecer.

Por isso me relacionar, por isso viajar é muito mais que conhecer lugares fora de mim, mas é mergulhar dentro de mim mesmo sob a influência de impressões, sensações, ambientes e comportamentos totalmente diferentes de tudo que conheço e já vivi.

O prazer, e às vezes o desprazer, de encarar o eu adormecido, o eu desconhecido que não se deixa aflorar nas situações corriqueiras, conhecidas e familiares do dia a dia da rotina diária.

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