terça-feira, 19 de maio de 2009

MIND THE GAP

Rio de Janeiro abril de 2009

No metrô de Londres em quase todas as estações existe o aviso MIND THE GAP que, traduzido ao pé da letra, significa cuidado com o vão (entre o trem e a plataforma) e numa das vezes que tomei o metrô em Willesden Green, quando lá morava, me peguei pensando nesse gap (vão) que temos dentro da gente - o que somos e no que queremos nos transformar - em como as viagens contribuem pra diminuirmos esse gap e chegarmos mais próximo da nossa essência, dos nossos valores, daquilo que realmente gostamos e acreditamos.... ou não. Quantas pessoas passam por ali, se atentam ao gap entre a plataforma e o vagão mas não param por nenhum momento pra pensar nesse gap interno?

Durante a minha volta ao mundo, senti em vários momentos uma grande dor no coração, posso dizer que acontecia com certa freqüência, em média a cada quatro dias, pois era quando deixava uma cidade em direção à outra, deixava pessoas que conheci e que sabia que nunca mais veria, deixava países que cruzei e onde provavelmente nunca mais pisaria...essa nostalgia sinto até hoje. Creio que qualquer pessoa que tenha saído do seu canto e ido conhecer outras cidades, países, culturas, pessoas, vai morrer "satisfeitamente" frustrada sempre... É o preço do conhecimento, pois conhece muitos mundos mas só pode viver em um, quando o seu mundo ideal seria misturar o melhor de todos eles num só....mas essas despedidas que nos causam nostalgia, nos fazem crescer, porque cada uma delas é como uma pequena morte e um pequeno renascimento e tudo isso nos faz sentir vivos....

A volta? Nova vida? Claro que não é simples, afinal você vem com percepções do mundo muito mais abrangentes do que as que encontra nas pessoas que aqui ficaram, mas aprende a entender que a percepção do mundo de quem sempre ficou na caverna olhando as sombras passarem do lado de fora, como escreveu Platão, sempre será diferente daquele que ousou e foi ver o que de verdade havia do lado de fora....e na verdade, isso ainda é um micro passo em relação a tudo que podemos, e um dia vamos, descobrir. Além disso, muitas pessoas te vêem como um pária, pois você foi lá fora, viu além das sombras e traz informações que as pessoas não querem ou não estão prontas para ouvir, hábitos e conhecimentos novos que muitas vezes assustam o comportamento pré estabelecido, visões do mundo muito além das discussões e do rame-rame do “dia a dia cotidiano” e que podem “corromper” o modus vivendi a que todos estão acostumados. Assim, muitas vezes, a reentrada no mundo tido como real não é nem um pouco simples, nem do seu ponto de vista, que evoluiu de uma maneira diferente dos que ficaram, mas que também desenvolveu uma adaptabilidade e compreensão bem melhor do mundo que nos cerca e assim consegue voltar a se encaixar na sociedade que vivia, mas também por parte dos que aqui ficaram, que tem dificuldades em assimilar novos conceitos e comportamentos.

Um comentário:

Charlotta Emigrante disse...

Concordo Fred, o segredo é ser tão "aberto de espirito" que possamos aceitar/assimilar as novas descobertas feitas ao sairmos da nossa caverna, mas ao mesmo tempo termos a capacidade de voltar para a caverna sem pertender mudar o mundo dos que lá ficaram, se "semi-re-adaptando" ao mundo que deixámos, sem chocarmos os ainda "acorrentados"... cada um tem de descobrir por si mesmo a luz verdadeira do Sol...