quarta-feira, 10 de março de 2010

As pessoas detestam quem pergunta.

Por quê ? Por que dessa forma se existe uma outra melhor? Por que não parar e analisar um comportamento, procedimento ou sistema e entender se existe maneira melhor ou mais simples de fazê-lo.

Por que as pessoas detestam questionamento?

Porque isso as tira de suas zonas de conforto, as faz pensar e tentar buscar explicações que elas no fundo desconhecem e preferem continuar desconhecendo.

Assim se alguém começa a questionar o funcionamento de algum sistema, de uma ação, de um comportamento, tentando levantar informações ou simplesmente entender, os envolvidos se sentem invadidos e, depois de tentar responder por educação e não encontrar uma boa resposta, se fecham. Quando se é criança as pessoas tem um pouco mais de paciência, mas logo te mandam ficar quieto ao invés de incentivar sua curiosidade.

Questione o “óbvio” e veja quais as respostas que surgirão.

Como as novas pessoas e as pessoas novas tem uma visão “de fora”, surgem com novas perguntas e logo encontram brechas que podem ser melhoradas. Passado algum tempo, para não causar incômodo ou até para que não as excluam, passam a deixar suas idéias e sugestões de lado e se envolvem no sistema tornando-se mais um. E aquele que continua tentando entender melhor, mostrar o que pode ser melhorado, insiste em continuar questionando, é visto como um pária e em pouco tempo o sistema o expele.

O que me vem à cabeça são duas histórias. A primeira é a Alegoria da Caverna de Platão, onde um grupo vivendo acorrentado numa caverna vendo somente as enormes sombras que são projetadas na parede, acreditam que o mundo é aquele, feito de gigantes. Quando um deles se liberta, conhece o lado de fora e volta pra contar, os que continuaram na caverna não acreditam em nada que ele diz e continuam apegados à seu mundinho, pois é mais tranqüilo, mais confortável e mais fácil viver na “ignorância”.

A segunda história é sobre a experiência com Os Macacos e a Escada. Colocaram cinco macacos numa jaula e um cacho de banana no alto da escada. Sempre que um macaco começava a subir a escada pra pegar as bananas atirava-se um jato de água nos que ficavam embaixo. A cada vez que isso acontecia os macacos que ficavam batiam no que tenta subir para não serem “duchados”. A cada período trocava-se um macaco. O novo tentava subir a escada e apanhava dos outros mesmo antes de ser acionado o jato de água, pois os antigos "sabiam" que seriam “duchados”. Assim o novo desistia de subir. Trocava-se novamente outro e outro e outro macaco. No final tínhamos cinco novos macacos, que NUNCA haviam sido “duchados” e que não subiam a escada para pegar as bananas. Não sabiam o porquê, mas como sempre havia sido assim eles não subiam.

Então, já pensou quantas vezes você agiu dessa maneira? Quantas vezes você sofreu por agirem dessa maneira com você? Quantas vezes você viu agirem dessa maneira?

Temos isso todos os dias o tempo todo na sociedade, na nossa vida comum, quando padronizamos a educação de nossos filhos, nas empresas onde trabalhamos ou onde pretendemos trabalhar, afinal o primeiro setor que age dessa maneira é o setor que seleciona as pessoas, que devem se alinhar claramente com o perfil, espírito e sistema da empresa, ser Another brick on the wall*.

Assim, a cada passo, a cada dia, precisamos de pessoas, como Chiquinha Gonzaga, Leila Diniz, Nelson Mandela, que corram o risco de apanhar e nos mostrem que vale a pena subir a escada para alcançar aquele cacho de banana com o qual todos sonham. Que está ali, ao alcance de nossas mãos mas que, não se sabe porque, ninguém se atreve a esticar o braço e alcançá-lo. Pessoas que nos mostrem que regras podem ser quebradas, que existe vida interessante, soluções criativas e comportamentos enriquecedores fora da caverna.

É...acho que por isso Saí pra dar uma volta... e continuo Andando por aí...



*música do Pink Floyd do filme The Wall (a parede ou o muro). A frase significa: mais um tijolo na parede, no muro.