Itapuã, Salvador, Bahia, abril de 2009
Passei muitos anos sem pisar aqui...nessa ponta de praia, e sigo com os olhos a linha do mar, deslizo por coqueiros e paro pra apreciar o perfil da cidade do Salvador ao fundo. Venho sempre comer um acarajé em Cira ou um bejuzinho na Tapiocaria que fica na esquina bem em frente, mas nunca mais havia seguido até a beira do mar pra curtir o visual.
Quando da primeira vez que estive em Salvador em 87, Itapuã ficava muito distante de onde estávamos hospedados, na verdade creio que ficava longe de qualquer referência que tínhamos da cidade, e não só pela distância, mas porque tudo era mais longe há 20 anos atrás...
Depois que passei a me hospedar mais próximo sempre encontrava uma desculpa pra não ir além de Cida ou do beju...ou mesmo do Creperê*.
Ano passado, ciceroneando uma amiga gringa, a trouxe até o farol de Itapuã e me surpreendi com o visual – já não lembrava mais como era – e comecei a (re) entender porque passar uma tarde em Itapuã deve ter sido algo tão prazeroso no último terço do século passado, afinal, a brisa, o cheiro, a linha do mar e os coqueiros desalinhados no horizonte e os poucos, ou nenhum, prédios na época, com certeza deixavam essa fantástica vista muito mais leve, mas ainda hoje pode-se maravilhar com o que ainda é.
Mais uma vez aqui pra comer um bejuzinho, resolvi pedir o que mais me atrai que é o de carne seca com catupiry. Delicioso, o cheiro, a consistência, o recheio....quase tão bom quanto o que minha mãe faz e quanto o que comi em João Pessoa no “Tapiocódromo” na Praia de Tambaú.
Fui saboreando cada pedaço enquanto apreciava a vista quando, não sei por que, de repente lembrei que era sexta-feira da Paixão e “não se come carne nesse dia”.
Como assim esse pensamento veio à minha cabeça?
Como assim não se come carne ?
Como assim se não sou católico e isso é uma regra dessa religião?
E percebi o quanto fica marcada a programação que inserem na nossa cabeça quando nosso “HD” ainda está vazio, até pela influência externa, já que estamos num país de maioria ainda “católica” e que, mesmo não sabendo muito bem porque, todos marcam almoço em família ou com amigos e nunca servem ou pedem carne....é um dia no qual instintivamente pensamos em comer peixe, e quando me peguei comendo carne e pensando sobre o assunto, que em qualquer outro dia seria um tema irrelevante, me dei conta dessa programação e no quanto outras programações nos fazem sentir culpados, incomodados e/ou fracos em determinadas situações, que muitas vezes parecem simplórias para quem veja de fora. Temos fobias, comportamentos, sensações que sequer sabemos o porquê, como o medo que tenho de lugares muito apertados sem uma saída clara e que, principalmente, me aperte os ombros...por quê? Sensações assim é que me deixam muito curioso para entender de onde meu cérebro assumiu essa programação, quando ele foi marcado a ferro por esse ou aquele sentimento.
E aqui, sentado nessa murada, comendo meu bejuzinho de carne seca com catupiry refletindo sobre esse assunto e admirando a vista que Toquinho e Vinícius descreveram tão bem em sua música, sigo “...com olhar esquecido no encontro de céu e mar... sentindo o arrepio do vento que a noite traz...”
*nome de uma creperia
domingo, 12 de abril de 2009
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2 comentários:
Valeu Fred!
Li seu livro e gostei muito.
Continue andando por aí e escrevendo para que possamos também sentir um pouco das suas aventuras.
Um gde abç,
Marco Cruz
criada por meus avós e após a morte dos mesmos que eram o meu unico amparo, aos 7 anos fui morar com meus pais, a diferença era brutesca, mas a unica coisa em comum que eu ouvia naquela fase de mudança era: criança, atenção, cuidado, não fale com estranhos, eles podem querer te fazer algum mal...mas, dentro de mim, sempre agiu um espírito inquieto, curioso, aventureiro, e eu nunca consegui obedecer este conselho ... Fred, vamos seguir em frente com nossos sonhos e poesias, e pq não fantasias, pois no final do túnel vejo uma luz e acredito não ser um trem para nos esmagar kkkkk...bj, Fred querido Fred
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