Almoço de dia das mães na casa de Tia Livinha e Tio Rodolfo que na verdade não são meus tios, mas os considero demais. Adoro vir aqui. O clima de família, o ambiente leve, a energia que Tio Rodolfo passa com sua paz e seu equilíbrio. O controle sobre tudo que está se passando e o envolvimento da Tia Livinha com cada um dos presentes. Você sente o amor no ar, como bem disse Clarissa, neta deles e com quem estava conversando nesse almoço, mais um dos vários que faço questão de comparecer sempre que estou em Salvador.
E conversando na mesa onde estava comendo uma maravilhosa salada com molho de yogurte e gengibre, surgiu o assunto de experimentar sabores, lugares, culturas e claro, minha viagem acaba aflorando na conversa que se transforma num debate sobre experimentação.
Conhecimento, crescimento, evolução, só surgem com experimentação, mesmo que seja uma experimentação ao acaso. Estar sempre buscando um sabor novo e não ficar só repetindo os maravilhosos sabores que já conhece é como ficar viajando pra cidades e países diferentes, ao invés de estar sempre indo pro mesmo país, pra mesma cidade, simplesmente porque foi o que mais te agradou e, mesmo que tenha que repetir um país ou cidade, buscar cidades diferentes dentro da mesma cidade, caso contrário pode perder a oportunidade de desvendar e conhecer coisas novas que podem até ser piores ou melhores que a anterior, mas ao menos você experimentou e agora sabe.
Isso acontecia frequentemente na minha viagem pelo mundo, pois encontrava uma cidade deliciosa, aconchegante, com ritmo, vida noturna e diurna, aproveitava cada instante e ficava tentado a ficar ali mais tempo, mas... e a próxima cidade, o próximo país? Poderiam ser tanto ou mais interessante que o que estava e mesmo que não fosse ao menos eu teria experimentado e como dizia Thomas Edison depois da milésima tentativa de criar a lâmpada elétrica: ao menos já descobri 1000 maneiras de como não fazer.
Eu descobria lugares que muitas vezes eram até interessantes, mas que não tinham a energia que eu buscava naquele momento.
A tentação de sempre pedir os mesmos sabores, de fazer as mesmas coisas, ir aos mesmos locais e cidades, de ficar em um determinado lugar que te agradou vem da eterna preguiça que nosso cérebro tem em trabalhar, ele tende sempre a buscar a zona de conforto, onde ele já está acostumado com todas as sensações e prazeres e assim se sente “em casa”, não precisa ficar buscando interpretações para cada coisa nova que vai acontecendo, para cada hábito novo que surge em seu caminho, para cada comportamento que inicialmente ele acha estranho e exótico, para cada sabor inicialmente bizarro. Assim nós nos deixamos controlar pelo nosso cérebro que nada mais é que mais um órgão do nosso corpo e que não é o que somos na verdade.
Afinal somos muito mais que apenas um órgão de nosso corpo, independente de sua importância.
Não somos apenas um coração, um fígado ou muito menos somente nosso cérebro.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
A ilha desconhecida
Viajar pra se conhecer ou viajar pra conhecer?
Viajar pra se conhecer e viajar pra conhecer?
Viajar sem se conhecer e sem conhecer?
Saramago tem um conto que se chama a Ilha Desconhecida e se resume a como vou me comportar ou quem sou (serei) eu quando lá chegar.
Por isso viajar não deve ser somente conhecer um lugar novo, uma cultura nova, comportamentos, sabores e cheiros mas, principalmente querer se conhecer.
No meu caso não é uma fuga de mim mesmo, mas um encontro comigo mesmo (já que fugimos disso o tempo todo no nosso dia a dia com medo do que podemos encontrar); é querer descobrir algo em mim que não tenho a oportunidade de conhecer dentro da sociedade onde vivo, do estilo de vida que me cerca, pelas modernidades e materialidades que me envolvem.
E não me restrinjo somente a viajar para poder me conhecer. Em todos os nossos relacionamentos creio que buscamos nos conhecer, ou mesmo, nos esquecer de quem somos.
Amo um lugar pelo que ele me faz tornar-me e gosto de me ver me comportando daquela maneira. Amo um amigo(a) pela maneira que ele(a) me faz sentir quando estou em sua companhia (mesmo que seja virtualmente). Amo uma mulher pelo que ela me faz sentir e pela maneira que passo a agir e o prazer que esse comportamento me proporciona, ou seja amo um lugar, um amigo, uma mulher pelo que me torno quando estou em sua companhia.
Amo viajar pelo “deslocamento” que isso causa em mim. Pelos relacionamentos que desenvolvo comigo mesmo quando encontro uma nova “ilha”, uma nova situação com a qual não havia me deparado antes e descubro uma nova faceta minha, uma nova maneira de me comportar, quando descubro que há algo em mim que sem esse relacionamento, sem esse deslocamento talvez nunca viria a conhecer.
Por isso me relacionar, por isso viajar é muito mais que conhecer lugares fora de mim, mas é mergulhar dentro de mim mesmo sob a influência de impressões, sensações, ambientes e comportamentos totalmente diferentes de tudo que conheço e já vivi.
O prazer, e às vezes o desprazer, de encarar o eu adormecido, o eu desconhecido que não se deixa aflorar nas situações corriqueiras, conhecidas e familiares do dia a dia da rotina diária.
Viajar pra se conhecer e viajar pra conhecer?
Viajar sem se conhecer e sem conhecer?
Saramago tem um conto que se chama a Ilha Desconhecida e se resume a como vou me comportar ou quem sou (serei) eu quando lá chegar.
Por isso viajar não deve ser somente conhecer um lugar novo, uma cultura nova, comportamentos, sabores e cheiros mas, principalmente querer se conhecer.
No meu caso não é uma fuga de mim mesmo, mas um encontro comigo mesmo (já que fugimos disso o tempo todo no nosso dia a dia com medo do que podemos encontrar); é querer descobrir algo em mim que não tenho a oportunidade de conhecer dentro da sociedade onde vivo, do estilo de vida que me cerca, pelas modernidades e materialidades que me envolvem.
E não me restrinjo somente a viajar para poder me conhecer. Em todos os nossos relacionamentos creio que buscamos nos conhecer, ou mesmo, nos esquecer de quem somos.
Amo um lugar pelo que ele me faz tornar-me e gosto de me ver me comportando daquela maneira. Amo um amigo(a) pela maneira que ele(a) me faz sentir quando estou em sua companhia (mesmo que seja virtualmente). Amo uma mulher pelo que ela me faz sentir e pela maneira que passo a agir e o prazer que esse comportamento me proporciona, ou seja amo um lugar, um amigo, uma mulher pelo que me torno quando estou em sua companhia.
Amo viajar pelo “deslocamento” que isso causa em mim. Pelos relacionamentos que desenvolvo comigo mesmo quando encontro uma nova “ilha”, uma nova situação com a qual não havia me deparado antes e descubro uma nova faceta minha, uma nova maneira de me comportar, quando descubro que há algo em mim que sem esse relacionamento, sem esse deslocamento talvez nunca viria a conhecer.
Por isso me relacionar, por isso viajar é muito mais que conhecer lugares fora de mim, mas é mergulhar dentro de mim mesmo sob a influência de impressões, sensações, ambientes e comportamentos totalmente diferentes de tudo que conheço e já vivi.
O prazer, e às vezes o desprazer, de encarar o eu adormecido, o eu desconhecido que não se deixa aflorar nas situações corriqueiras, conhecidas e familiares do dia a dia da rotina diária.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Quando a saudade termina?
Em uma das muitas cidades por onde passei, e da qual não me recordo o nome, me deparei com uma placa no momento que cruzava os limites da cidade que dizia: aqui começa a saudade de “Palmira”
Tenho vivido uma sequência de “começos de saudade” desde que me dou por gente e tudo o que vivi, vi e senti construiu algum tipo de sentimento, algum tipo de memória em mim.
Claro que guardo com saudades os momentos positivos pelos quais passei, mas acho que a primeira saudade que construímos é aquela do lugar que nos foi destinado ao nascer ou então do lugar onde fomos criados ou ainda do lugar onde criamos raízes. Mas, e no meu caso que não tenho raízes?
Voltar pra onde? Voltar por quê?
Em todas as viagens que fiz sempre defini um retorno, uma data aproximada, mesmo não tendo raízes, mas ainda acreditava que o Brasil era o meu lugar, acho que nem tanto pelo país, tampouco pelos amigos, afinal construí algumas boas amizades nos países onde morei e em alguns que passei, mas por causa da família.
Creio que essa vontade de voltar fica sempre martelando na cabeça (ou seria no coração?) de todos que deixam o “seu lugar”.
Mas quando essa saudade começa e quando ela acaba?
Parece-me mais simples definir quando começa. E acho impossível definir quando acaba. Ao menos aqui nessa existência material, porque mesmo que voltemos pro lugar que deixamos, encontramos o mesmo local, mas em época diferente, num tempo distinto. Assim, enquanto esperamos voltar e reencontrar o que deixamos, podemos nos frustrar, porque o tempo passou e tanto o que deixamos, quanto “quens” deixamos, mudaram. E mais, nós mudamos, desenvolvemos uma maneira diferente (nem melhor nem pior, apenas diferente) de ver e sentir as coisas e ao nos depararmos com a realidade que havia ficado e já não é mais, nos sentimos perdidos no tempo e no espaço e por isso acabamos oscilando sempre entre a vontade de viajar de novo e a saudade do que vimos, fizemos e conhecemos e também da “saudade do que ainda não fiz”.
Acho que aquela placa deveria ser mais completa e dizer; “aqui começa a saudade de Palmira... e que nunca vai se apagar, mesmo que você volte.
Tenho vivido uma sequência de “começos de saudade” desde que me dou por gente e tudo o que vivi, vi e senti construiu algum tipo de sentimento, algum tipo de memória em mim.
Claro que guardo com saudades os momentos positivos pelos quais passei, mas acho que a primeira saudade que construímos é aquela do lugar que nos foi destinado ao nascer ou então do lugar onde fomos criados ou ainda do lugar onde criamos raízes. Mas, e no meu caso que não tenho raízes?
Voltar pra onde? Voltar por quê?
Em todas as viagens que fiz sempre defini um retorno, uma data aproximada, mesmo não tendo raízes, mas ainda acreditava que o Brasil era o meu lugar, acho que nem tanto pelo país, tampouco pelos amigos, afinal construí algumas boas amizades nos países onde morei e em alguns que passei, mas por causa da família.
Creio que essa vontade de voltar fica sempre martelando na cabeça (ou seria no coração?) de todos que deixam o “seu lugar”.
Mas quando essa saudade começa e quando ela acaba?
Parece-me mais simples definir quando começa. E acho impossível definir quando acaba. Ao menos aqui nessa existência material, porque mesmo que voltemos pro lugar que deixamos, encontramos o mesmo local, mas em época diferente, num tempo distinto. Assim, enquanto esperamos voltar e reencontrar o que deixamos, podemos nos frustrar, porque o tempo passou e tanto o que deixamos, quanto “quens” deixamos, mudaram. E mais, nós mudamos, desenvolvemos uma maneira diferente (nem melhor nem pior, apenas diferente) de ver e sentir as coisas e ao nos depararmos com a realidade que havia ficado e já não é mais, nos sentimos perdidos no tempo e no espaço e por isso acabamos oscilando sempre entre a vontade de viajar de novo e a saudade do que vimos, fizemos e conhecemos e também da “saudade do que ainda não fiz”.
Acho que aquela placa deveria ser mais completa e dizer; “aqui começa a saudade de Palmira... e que nunca vai se apagar, mesmo que você volte.
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